A roda é delas! Cada vez mais mulheres comandam o samba no Brasil

Written by on 21 de maio de 2019

Por muito tempo, nas rodas de samba, nos palcos, nos instrumentos e nas composições, as mulheres não tiveram vez. Esses lugares eram redutos masculinos, mas, aos poucos a essência feminina foi ocupando também esses espaços e ultrapassou a posição de “musa inspiradora” ou de dançarina.

 

No entanto, nem sempre foi assim. As presenças femininas são relevantes para a gênese e para a construção do samba. Seja no Rio de Janeiro, seja na Bahia, não se pode negar que o gênero tem raízes quilombolas e é símbolo da resistência negra. Em uma época em que existia a Lei da vadiagem, as “tias baianas” abriram as casas, cozinhas e os terreiros para fazer a música acontecer, elas tocavam, cantavam e dançavam, além de serem ótimas anfitriãs. Tia Ciata foi a mais conhecida delas — a casa da mãe do samba, no Rio de Janeiro, era parada obrigatória quando se tratava de festas e celebrações, e se destacava nas rodas de partido alto.

 

Com o passar do tempo, as mulheres passaram a ganhar papéis secundários, mas de suma importância, enquanto os homens comandavam a música propriamente dita. No entanto, o gênero que virou majoritariamente masculino, aos poucos se transforma em frente de empoderamento feminino, seja nas letras, nas performances, no público, ou no fato de existirem mulheres sambistas.

 

As precursoras em se arriscar neste meio se destacaram. Entre elas, Dona Ivone Lara. Ela foi cantora, percussionista e militante em plenos os anos 1960. Ela foi a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores da escola de samba. “Para mim, a Dona Ivone Lara é a grande rainha do samba tanto como cantora, como compositora quanto como cavaquinista. Além de ter sido militante do serviço social, ela estava atrelada a essas questões humanitárias que a tornam uma mulher maior ainda”, afirma a sambista brasiliense Mariana Sardinha.

 

No cenário musical atual, temos muitas cantoras que passam esta mensagem por meio das rodas. A cantora Doralyce Gonzaga com Silvia Duffrayer adaptou a música Mulheres, de Toninho Geraes, para uma versão que empodera as ouvintes, por meio de famosas mulheres da história brasileira. “Nós somos mulheres de todas as cores, de várias idades, de muitos amores/ Lembro de Dandara, mulher foda que eu sei, de Elza Soares, mulher fora da lei/ Lembro de Anastácia, valente, guerreira, de Xica da Silva, toda mulher brasileira/ Crescendo oprimida pelo patriarcado, meu corpo, minhas regras, agora, mudou o quadro”, reafirma a paródia.

 

Realmente, o quadro está mudado. Em São Paulo, grupos e rodas totalmente compostos por mulheres são destaque na capital. A cena feminina de SP no samba é repleta de talentos e, mesmo com “olhares tortos”, a história do samba passa a ser contado do olhar feminino.

 


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